Edição/reimpressão: 2006
Páginas: 216
Editor: Editorial Caminho
Sinopse
A minha opinião:
Já não me lembrava do quanto eu tinha gostado da escrita de Saramago. Ao contrário da maioria dos meus colegas de secundário na altura, para mim foi um prazer conhecer/ler a história de Baltazar e Belimunda. Não conseguia perceber porque tanta gente implicava com a pontuação ou a falta dela na escrita de Saramago, pois, para mim, não me pareceu difícil seguir o seu raciocínio.
Desta vez, ao ler As Intermitências da Morte, percebi que Saramago tem toda a pontuação que necessita na sua escrita, porque ele escreve como se estivesse a falar, a contar-nos a história. Perdoem-me os entendidos na matéria se estiver a dizer alguma barbaridade literária mas, foi assim que me senti. Não senti que estava a ler aquela história, mas sim que Saramago estava aqui ao meu lado a contar-me-la ele próprio.
Para quê tanta pontuação quando se tem o dom da palavra, o dom de contar histórias!?
A sua escrita é de tal modo fluída, embrenhando-nos na história que está a ser contada que nem vemos as folhas a passar e mal reparamos na incomum utilização da pontuação.
Saramago conta-nos a história à sua boa maneira, acrescentando pormenores, voltando atrás na narrativa quando acha necessário, e, tal e qual um contador de histórias ... quase que o sentimos a falar connosco.
Quanto ao enredo, já alguma vez pararam para pensar o que aconteceria se um dia a Morte se lembrasse de fazer uma espécie de greve e nunca mais ninguém morresse?
Pois é esse o cenário que nos apresenta Saramago. Num certo país, subitamente, no dia seguinte à passagem de ano, as pessoas pararam de morrer.
E é de pensar, então mas e isso não é bom? Não é o que todos andamos a desejar, a afamada vida eterna?! Pois... mas acontece que, após esses poucos minutos de possível euforia, o peso da realidade cair-nos-ia em cima! O facto de ninguém morrer não impede que existam doentes em permanente fase terminal, que ficariam os chamados de "vivos-mortos"... O que seria então dos Hospitais, das Unidades de Cuidados Continuados, dos Lares, das famílias que iriam acumular gerações atrás de gerações de idosos dependentes, das funerárias, etc.? Já pensaram nisso?
Gostei também de conhecer a perspectiva da morte e do papel que ela tem nesta história, posso dizer até que simpatizei com ela! E adorei aquele final inesperado... ;)
E é assim com esta magnifica história que o escritor nos põe a reflectir sobre o sentido da vida e da morte e onde aproveita para deixar também algumas criticas à sociedade através do seu característico sarcasmo brilhante que eu tanto aprecio!
Depois deste livro posso afirmar-me uma fã convicta e incondicional da escrita de José Saramago, que passou a ser o meu segundo contador de histórias preferido... =)
Classificação: 5 Excelente!